
A ascensão da era digital transformou não apenas os meios de comunicação, mas também os critérios de sucesso profissional. As habilidades técnicas e acadêmicas continuam relevantes, mas já não operam sozinhas como critérios determinantes. Cada vez mais, a capacidade de construir e mobilizar redes de influência tem se mostrado um diferencial decisivo. Essa mudança pode ser analisada à luz das discussões sobre capital social e simbólico, como proposto por Pierre Bourdieu (1986), bem como sob a ótica das novas dinâmicas de visibilidade e reconhecimento descritas por Byung-Chul Han (2018).
O capital social na era digital
Bourdieu argumenta que o capital social — entendido como a soma dos recursos acessíveis por meio de redes de relacionamento — pode ser tão ou mais valioso do que o capital econômico e o capital cultural.
No contexto contemporâneo, essa ideia ressoa fortemente. A Geração Z, como apontam estudos da McKinsey & Company (2018), navega com fluidez em redes sociais e cria novas formas de validação e pertencimento, muitas vezes deslocando os mecanismos tradicionais de ascensão profissional.
A pesquisa TrueGen: A Geração da Verdade, realizada pela Box1824, reforça essa perspectiva ao destacar que a autenticidade e a influência digital se tornaram ativos centrais para os jovens consumidores e trabalhadores. Esse fenômeno altera as estruturas corporativas, onde a expertise técnica passa a dividir espaço com a capacidade de engajamento e conexão.
O mercado e a nova lógica do prestígio
Se, no passado, o sucesso profissional era amplamente medido por diplomas e experiências formais, hoje ele se desloca para um modelo mais fluido, onde a capacidade de articulação e a presença digital exercem um papel significativo. Byung-Chul Han (2018) analisa esse cenário a partir do conceito de “sociedade da transparência”, na qual a exposição constante e a busca por aprovação se tornam aspectos estruturantes do reconhecimento social.
As empresas, por sua vez, tentam se adaptar a essa nova lógica. Como aponta o artigo de Meio & Mensagem (2021), ignorar a Geração Z e seus valores pode significar perder relevância no mercado. No entanto, a dependência excessiva de relações informais e de carisma pessoal também podem minar a credibilidade e a seriedade de processos corporativos, abrindo espaço para favoritismos e reduzindo a valorização de competências técnicas.
O mercado atual se encontra em uma encruzilhada: por um lado, reconhece a importância das novas formas de influência e conexão; por outro, enfrenta os desafios de manter padrões sólidos de avaliação. A questão que se coloca é: estamos construindo um modelo de reconhecimento mais inclusivo ou apenas deslocando antigos privilégios para novas esferas de poder? Se a fama importa mais que o currículo, como ficará a qualidade dos serviços e produtos?
Referências
BOURDIEU, Pierre. Os três estados do capital cultural. In: BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1986.
HAN, Byung-Chul. A Sociedade da Transparência. Petrópolis: Vozes, 2018.
MCKINSEY & COMPANY. True Gen: Como a geração Z impactará as empresas de bens de consumo. 2018. Disponível em: https://www.mckinsey.com/industries/consumer-packaged-goods/our-insights/true-gen-generation-z-and-its-implications-for-companies/pt-BR. Acesso em: 15 fev. 2025.
MEIO & MENSAGEM. Por que você precisa pensar sobre a geração Z agora e não depois?. 2021. Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/home/opiniao/2021/05/28/por-que-voce-precisa-pensar-sobre-a-geracao-z-agora-e-nao-depois.html. Acesso em: 15 fev. 2025.
BOX1824. TrueGen, A Geração Da Verdade. YouTube, 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Jr1pgfJpgWk. Acesso em: 15 fev. 2025.