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Alianças que Transformam: Economia Circular em Rede

Vivemos uma era em que a interdependência deixou de ser uma hipótese para se tornar uma condição estruturante da inovação. Especialmente nos modelos de negócio baseados na economia circular, onde o reaproveitamento, a regeneração e a lógica do “não-lixo” não se sustentam em esforços isolados. O que está em jogo não é apenas uma transformação produtiva, mas a construção de ecossistemas colaborativos que operam a partir de valores compartilhados — e geram impacto real.

Diferentemente do modelo linear tradicional — baseado em extração, produção, consumo e descarte — a economia circular propõe uma transformação profunda, tanto no nível cultural quanto estrutural. De acordo com estudos reunidos por pesquisadores da UFRJ ( BORSCHIVER E TAVARES, 2022), a consolidação de modelos de negócios circulares depende da articulação entre múltiplos atores sociais e econômicos. Isso inclui políticas públicas que favorecem a circularidade, ações de organizações sociais que mobilizam comunidades, iniciativas de startups voltadas à inovação sustentável e empresas comprometidas com mudanças sistêmicas em suas cadeias de valor.

Redes de valor: mais que fornecedores, aliados

No centro desses ecossistemas estão as redes de valor, que substituem a lógica tradicional da cadeia de suprimentos. Em vez de apenas comprar ou vender, os atores se conectam para co-criar soluções. O elo entre todos eles é a confiança estratégica, que precisa ser construída com base em escuta ativa, transparência e uma comunicação ética e consistente. Isso exige sensibilidade cultural e inteligência contextual, áreas em que a antropologia aplicada pode oferecer contribuições valiosas.

Ao observar como diferentes coletivos constroem sentidos em torno de palavras como “sustentabilidade” ou “resíduo”, a antropologia permite compreender o que faz sentido localmente — e o que não funciona. Modelos que funcionam em países do Norte Global, por exemplo, podem não se adaptar à realidade de comunidades periféricas no Brasil. Por isso, alinhar práticas circulares à cultura de cada território é não apenas ético, mas estratégico.

Governança circular: quando o Estado é parte da engrenagem

A atuação dos governos é fundamental para fomentar ecossistemas baseados na lógica da economia circular. Por meio da criação de incentivos fiscais, marcos legais e políticas de compras públicas sustentáveis, o setor público tem o potencial de induzir comportamentos circulares em toda a cadeia produtiva. Além de regulador, o Estado pode se tornar um agente transformador ao adotar práticas circulares em suas próprias operações, incentivando a reutilização de insumos e promovendo a articulação entre setores para fortalecer simbioses industriais. A atuação conjunta entre empresas e governos também contribui para o fortalecimento da infraestrutura compartilhada — uma base essencial para que startups possam operar com menos barreiras de entrada e mais acesso a tecnologia e dados.

Inovação com propósito: o papel das startups

Startups são o combustível da experimentação. Em ecossistemas circulares, elas atuam como organismos vivos, capazes de testar, errar e aprender em ciclos curtos. Quando conectadas a empresas maiores ou a programas de aceleração com foco em impacto, elas ampliam seu alcance e agregam inteligência ao sistema. Iniciativas como laboratórios de inovação aberta, hubs de impacto e editais públicos têm sido chave na formação desses ecossistemas, especialmente no Brasil.

Porém, para que essa inovação tenha impacto, é preciso ir além do pitch. As soluções devem dialogar com realidades sociais, culturais e ambientais concretas. É aqui que entra a pesquisa qualitativa e o uso de abordagens como o design centrado no ser humano, a etnografia de consumo e os mapas de jornada circular.

Organizações da sociedade civil: o saber de base

As ONGs e coletivos sociais trazem à cena um conhecimento que muitas vezes escapa aos modelos de gestão tradicionais: o saber territorial. Em projetos de economia circular, elas atuam como pontes entre as tecnologias de reaproveitamento e o conhecimento das comunidades sobre práticas sustentáveis ancestrais ou intuitivas. Assim, ajudam a promover inclusão produtiva, autonomia e protagonismo — especialmente entre mulheres, povos indígenas, pessoas negras e outras populações historicamente excluídas dos grandes sistemas produtivos.

Mensurar impacto é mais que medir CO₂

Um dos maiores desafios da economia circular em rede é avaliar o impacto real. Reduzir toneladas de lixo ou quantificar emissões é fundamental — mas insuficiente. É preciso considerar também os impactos simbólicos, sociais e culturais gerados por essas alianças. Como mudam a percepção pública da marca? Como afetam a autoestima de uma comunidade? Como reposicionam um setor perante a opinião pública?

Para isso, modelos híbridos de avaliação, que combinem indicadores ESG, métricas qualitativas e métodos etnográficos, são essenciais. A reputação construída nesses contextos não é apenas um ativo de mercado: é um ativo de confiança.

Economia circular é comunicação: conectar para regenerar

Por fim, cabe reforçar: nenhum ecossistema se sustenta sem comunicação. Comunicar práticas circulares é, em si, uma prática estratégica que exige clareza, coerência e comprometimento. Como destaca o Guia de Comunicação e Sustentabilidade do CEBDS (2009), comunicar propósito de forma eficaz é tão importante quanto implementá-lo. Isso inclui envolver stakeholders, alinhar narrativa interna e externa e ouvir os públicos envolvidos em tempo real.

É nesse ponto que a ToMoveCom pode apoiar sua organização. Atuamos com pesquisa de mercado, comunicação integrada, inteligência estratégica e consultoria em diversidade, inclusão e ESG. Acreditamos que toda transformação sustentável precisa ser comunicada com verdade, desenhada com empatia e impulsionada por dados que fazem sentido.

📚 Referências Bibliográficas

BORSCHIVER, Suzana; TAVARES, Aline Souza (org.). Catalisando a economia circular: conceitos, modelos de negócios e sua aplicação em setores da economia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2022. 183 p. ISBN 978-65-88388-33-4. Disponível em: https://editora.ufrj.br/produto/catalisando-a-economia-circular-conceitos-modelos-de-negocios-e-sua-aplicacao-em-setores-da-economia/. Acesso em: 28 maio 2025.

CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável. Guia de comunicação e sustentabilidade. Rio de Janeiro: CEBDS, 2009. Disponível em: https://conjunta.org/conteudo/guia-de-comunicacao-e-sustentabilidade/. Acesso em: 28 maio 2025.

 

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