
No RH, falamos muito sobre cultura organizacional — mas pouco sobre como ela age. E para entender o que realmente estrutura a experiência dos colaboradores, é preciso olhar para os rituais corporativos: reuniões, feedbacks, campanhas internas, processos de onboarding, coffee breaks, confraternizações e até demissões. Cada uma dessas situações funciona como um marcador simbólico de pertencimento, controle ou exclusão.
A antropologia nos ensina que os rituais não são apenas “eventos formais”, mas mecanismos que organizam o mundo, reforçam normas sociais e marcam fronteiras entre grupos (DOUGLAS, 1976; MAUSS, 2003).
Dentro das empresas, eles criam narrativas sobre o que é ser um “bom colaborador”, quem pode falar, quem escuta, e o que não pode ser dito.
É nesse espaço simbólico que se estabelecem, muitas vezes de forma sutil, os valores reais de uma organização — aqueles que nem sempre estão no papel, mas que moldam o dia a dia.
Segundo Victor Turner (2008), os rituais também são espaços de ambiguidade e transformação: é neles que o novo pode emergir, que a inovação pode brotar — ou ser reprimida. Se os rituais são engessados, verticais e repetitivos, a tendência é que reforcem silêncios, desigualdades e frustrações. Por outro lado, rituais mais horizontais, abertos e simbólicos (como escutas coletivas, assembleias, ritos de boas-vindas e trocas informais) podem gerar comunhão, segurança psicológica e engajamento.
Por isso, o RH do futuro precisa de repertório antropológico. Mapear os rituais da empresa, identificar seus significados e propor redesigns simbólicos é um caminho potente para fomentar diversidade, inclusão, segurança emocional e inovação social. O objetivo não é eliminar os rituais, mas ressignificá-los — transformando-os em dispositivos vivos de cultura e conexão.
Quintas do RH: Inspirando Profissionais de Recursos Humanos
O “Quintas do RH” é uma iniciativa da ToMoveCom que busca proporcionar insights valiosos e discussões relevantes para profissionais de Recursos Humanos. A cada quinta-feira, compartilhamos conteúdos que abordam tendências, desafios e melhores práticas no universo do RH, com o objetivo de inspirar e capacitar gestores e líderes a aprimorarem suas estratégias de gestão de pessoas. Essa série é uma oportunidade para se manter atualizado e engajado com as inovações e transformações que moldam o futuro do trabalho.
Embora se chame Quintas do RH, nem toda sexta tem sessão — priorizamos compromissos profissionais que hoje sustentam nosso trabalho. Esta coluna, feita com afeto e reflexão, segue como um projeto independente, publicado quando o tempo permite e a inspiração pede passagem. Ah… e também não somos favoráveis aos anúncios invadindo seu espaço de leitura, então, aproveite!
Referências bibliográficas:
DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo: uma análise dos conceitos de poluição e tabu. Lisboa: Ed. 70, 1976.
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
TURNER, Victor. O processo ritual: estrutura e antiestrutura. Petrópolis: Vozes, 2008.