
A comunicação no ambiente de trabalho não é neutra. E nem sempre é inocente. Quando ruídos se tornam recorrentes, vale perguntar: estamos diante de um erro ou de uma tática? Segundo Charaudeau, todo ato de linguagem é atravessado por uma intencionalidade — ou seja, ninguém comunica sem interesse.
Já Bakhtin nos lembra que todo enunciado nasce de uma relação de força: o que você diz, para quem diz e em qual contexto. O conflito, portanto, não é um desvio, mas parte da própria dinâmica comunicacional. E então: os mal-entendidos são fruto de desconhecimento? Ou são criados (ou mantidos) para proteger hierarquias e preservar poderes? Saussure, o pai da linguística moderna, nos ensina que a linguagem é arbitrária e simbólica — construída coletivamente, mas controlada por quem detém os códigos.
Quando um líder se comunica em siglas, termos técnicos ou com tom agressivo, isso pode excluir, silenciar ou desmobilizar. A dúvida vira ferramenta de controle. E o silêncio, um sintoma de que algo está sendo apagado no discurso oficial da empresa.
O que está em jogo, muitas vezes, é a gestão do entendimento. Quem tem o domínio da palavra tem o poder de incluir — ou excluir — pessoas e ideias. Um vocabulário hermético, mal explicado ou “deixado ao acaso” pode criar zonas cinzentas onde o erro sempre recai sobre o subordinado, nunca sobre quem lidera a comunicação. É aí que o RH precisa atuar não apenas como mediador, mas como guardião da ética discursiva: clareza também é cuidado.
Além disso, a repetição de ruídos e mal-entendidos pode ser sintoma de uma cultura organizacional disfuncional, onde a opacidade se naturalizou. Ambientes em que “não ficou claro”, “ninguém entendeu direito”, ou “cada um interpretou de um jeito” não apontam só para falhas operacionais, mas para um modelo de comunicação onde o poder prefere o vago ao transparente. A manipulação se disfarça de informalidade, e o informal vira regra.
No contexto pós-pandêmico, com equipes híbridas, sobrecarga digital e múltiplos canais de comunicação (e-mails, apps, calls, etc.), a responsabilização se torna ainda mais complexa. Quem errou: quem mandou uma mensagem mal escrita ou quem “não entendeu direito”? Sem critérios de linguagem clara e ética dialógica, o conflito ganha terreno. Por isso, o papel do RH deve ir além da resolução pontual de ruídos — ele precisa pensar estrategicamente sobre como a linguagem constrói (ou destrói) vínculos de confiança.
O RH precisa reconhecer quando a falha é pedagógica (falta de formação comunicacional) e quando ela é estratégica (forma de manter relações assimétricas). Em ambos os casos, o desafio é o mesmo: construir pontes e romper bolhas de poder discursivo. O que está em jogo não é apenas o que se diz, mas como, para quem e com que efeito. Lembre-se: inovação e produtividade só emergem com engajamento e em ambientes saudáveis!
O que é o “Quintas do RH”
“Quintas do RH” é uma série de conteúdos reflexivos e provocativos publicada semanalmente às quintas-feiras, com foco em temas relevantes para profissionais de Recursos Humanos, gestão de pessoas e cultura organizacional. A proposta é trazer olhar crítico, referências teóricas e estímulo à transformação das práticas de comunicação interna, liderança, bem-estar no trabalho e relações de poder nas empresas.
Embora se chame Quintas do RH, nem toda quinta tem sessão — priorizamos compromissos profissionais que hoje sustentam nosso trabalho. Esta coluna, feita com afeto e reflexão, segue como um projeto independente, publicado quando o tempo permite e a inspiração pede passagem. Ah… e também não somos favoráveis aos anúncios invadindo seu espaço de leitura, então, aproveite!
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REFERÊNCIAS:
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2013.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2004.