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Quiet Quitting e o Jogo da Cordialidade Corporativa

No ambiente corporativo, planos de carreira estruturados, crescimento baseado no desempenho e reconhecimento do esforço são algumas das promessas que atraem talentos para uma empresa. No entanto, com o tempo, muitos profissionais percebem que a progressão não segue apenas critérios técnicos ou de entrega. Outros fatores, muitas vezes invisíveis nos discursos institucionais, passam a ser determinantes – e é aí que começa a desilusão.

A promessa do crescimento pelo esforço se dissolve diante da dinâmica velada da influência. Em algumas organizações, não basta ser competente e produtivo; é preciso entender os códigos informais que regem as oportunidades. Aqueles que melhor transitam por esse sistema, muitas vezes, acabam ocupando posições estratégicas, enquanto os que apostam exclusivamente em sua performance ficam estagnados. 

Esse desalinhamento entre expectativa e realidade pode levar ao fenômeno do Quiet Quitting – um desligamento emocional do trabalho, que impacta tanto a motivação do indivíduo quanto a cultura organizacional como um todo.


O Plano de Carreira como Um Espelho Mágico

A ideia de um plano de carreira estruturado é um dos principais atrativos nos anúncios de emprego. Segundo Chiavenato (2014), um bom plano de carreira deve oferecer diretrizes claras para o crescimento profissional, dando ao colaborador previsibilidade e motivação. Mas, quando essa estrutura não passa de um discurso sedutor, os efeitos são inversos: frustração e descrença no sistema.

O profissional se dedica, entrega resultados, assume responsabilidades extras e acredita que está no caminho certo. No entanto, ao observar as promoções ao seu redor, percebe que outros fatores estão em jogo. Muitas vezes, não são os mais capacitados ou produtivos que avançam, mas aqueles que melhor dominam a arte das relações internas.


Cordialidade Corporativa: O Uso do Público para o Privado

Essa dinâmica pode ser compreendida à luz do conceito de cordialidade trabalhado por Sérgio Buarque de Holanda (1936). No Brasil, a cultura organizacional frequentemente reflete traços históricos mais amplos, em que as fronteiras entre o público e o privado se tornam nebulosas.

📌 O que isso significa no ambiente corporativo?

Significa que, muitas vezes, as relações interpessoais passam a ter mais peso do que as entregas objetivas. Gestores e líderes, ao invés de tomarem decisões baseadas exclusivamente em critérios técnicos, acabam favorecendo aqueles com quem possuem maior proximidade ou afinidade. Dessa forma, o espaço corporativo, que deveria ser um ambiente de desenvolvimento coletivo, se transforma em um palco onde a influência e a lealdade pessoal determinam o acesso às oportunidades.

Essa lógica de funcionamento gera um efeito colateral importante: aqueles que percebem que esforço e competência não são suficientes começam a desacelerar seu envolvimento com o trabalho.


Do Engajamento ao Quiet Quitting

Quando o crescimento profissional deixa de ser previsível e passa a depender de fatores subjetivos, a tendência natural é que os profissionais mais dedicados se sintam desencorajados e reduzam seu nível de comprometimento. O Quiet Quitting surge como uma resposta lógica a esse ambiente, levando os colaboradores a:

📉 Reduzir o esforço ao mínimo necessário – já que o extra não se traduz em reconhecimento.
📉 Desconectar-se emocionalmente da empresa, focando apenas nas obrigações formais.
📉 Reavaliar suas prioridades, buscando equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Esse comportamento não significa desinteresse ou falta de profissionalismo, mas uma estratégia de sobrevivência em ambientes onde o crescimento não segue critérios claros. Por que continuar se dedicando além do esperado se as regras do jogo não são transparentes?


Os Efeitos no Ambiente Organizacional

Segundo Pfeffer (2018), quando o crescimento profissional é baseado mais em laços de influência do que em critérios objetivos, a empresa enfrenta uma série de desafios:

⚠️ Baixa inovação – Profissionais desmotivados não se sentem inclinados a propor novas ideias.
⚠️ Aumento do turnover – Os talentos mais qualificados migram para organizações que valorizam competências reais.
⚠️ Ambiente de desconfiança – Quando os critérios de promoção são subjetivos, os colaboradores deixam de acreditar na empresa.

Com o tempo, a cultura da cordialidade corporativa se torna um entrave para a competitividade. Organizações que não revisam seus processos acabam perdendo profissionais altamente qualificados para concorrentes que oferecem estruturas mais transparentes.


Como Reverter Esse Cenário?

Para evitar que o Quiet Quitting se torne a norma, as empresas precisam:

✔️ Criar planos de carreira transparentes, com critérios objetivos para promoções.
✔️ Estabelecer processos de avaliação claros, baseados em performance e resultados.
✔️ Desenvolver uma liderança preparada para evitar favoritismos e subjetividades.
✔️ Valorizar talentos reais, e não apenas a capacidade de adaptação ao jogo político interno.

Uma cultura organizacional saudável não se constrói apenas com discursos inspiradores, mas com práticas concretas que garantam igualdade de oportunidades e reconhecimento verdadeiro.


Conclusão

O Quiet Quitting não é um problema isolado do funcionário, mas um reflexo do ambiente organizacional. Quando as regras do crescimento dentro da empresa são obscuras e determinadas mais por relações do que por mérito, a tendência natural dos profissionais mais comprometidos é reduzir seu engajamento.

Empresas que desejam evitar esse cenário precisam revisar sua cultura de gestão, garantindo que o crescimento profissional seja baseado em critérios claros e justos. Só assim poderão reter talentos, estimular a inovação e fortalecer sua posição no mercado.

📢 E você? Já se sentiu frustrado ao perceber que o esforço não era o suficiente para crescer dentro da empresa? Compartilhe sua experiência!


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Referências
  • BUARQUE DE HOLANDA, Sérgio. Raízes do Brasil. Companhia das Letras, 1936.

  • CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Elsevier Brasil, 2014.

  • PFEFFER, Jeffrey. Dying for a Paycheck: How Modern Management Harms Employee Health and Company Performance—and What We Can Do About It. Harper Business, 2018.

  • SCHEIN, Edgar H. Organizational Culture and Leadership. John Wiley & Sons, 2010.

 
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