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Sextou com Pipocas: O Rei da TV e o Populismo em Cena

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Você pode até não se interessar por política, mas ela se interessa por você. Em tempos de redes sociais, algoritmos e discursos inflamados, a série O Rei da TV (Star+) oferece mais do que nostalgia: ela é um estudo de caso sobre o nascimento de uma comunicação carismática que pavimenta o caminho do populismo contemporâneo.

Silvio Santos, com sua voz hipnótica e sorriso permanente, é o arquétipo do comunicador que transforma audiência em fidelidade emocional. Essa mesma lógica hoje se manifesta em figuras políticas que transformam lives em palanques e bordões em identidade. A ruptura está no centro da cena — e é vendida como autenticidade.

O carisma como ferramenta política

O populismo digital contemporâneo costuma operar por meio de três pilares centrais: a criação de uma divisão entre “nós” e “eles”, o apelo direto às emoções e a valorização de uma figura central que se apresenta como a voz do povo. Essa lógica é descrita por Ernesto Laclau, que entende o populismo como uma articulação discursiva na qual diferentes demandas sociais se conectam por meio de uma identidade comum — o “povo” — em oposição a uma elite percebida como distante ou corrupta (LACLAU, 2013).

Lembrando que, o populismo não está vinculado à esquerda necessariamente. Ele é uma forma de articulação política que pode ser usada tanto por esquerdas quanto direitas. Quando Laclau fala em “povo contra elite”, ele está tratando de uma lógica discursiva: a construção simbólica de dois polos (nós vs. eles), que não depende da posição ideológica do ator político.

A extrema direita, por exemplo, também mobiliza o discurso populista, mas frequentemente redefine quem é “o povo” (nacional, conservador, moralmente puro) e quem é “a elite” (intelectuais, mídia, ambientalistas, defensores dos direitos humanos, e até a própria esquerda), criando uma dicotomia funcional ao seu projeto.

Essa mesma dinâmica aparece quando olhamos para figuras como Silvio Santos, que, mesmo atuando no campo do entretenimento, estabeleciam vínculos afetivos com a audiência por meio de bordões, teatralização do cotidiano e uma imagem de “homem do povo”. Hoje, o feed substituiu o auditório. A câmera do celular virou palco, e o improviso planejado é parte do roteiro. A linguagem simples, a estética da informalidade e o “jeito de gente como a gente” são ferramentas poderosas para engajar audiências e conquistar eleitores — muitas vezes mais eficazes do que propostas técnicas ou planos de governo.

Como escolhemos nossos líderes?

Um estudo publicado na Revista Gestão e Desenvolvimento aponta que o eleitor brasileiro tende a tomar decisões mais com o coração do que com a razão. A identificação simbólica com o candidato — sua forma de falar, vestir ou se comportar — pesa mais que programas de governo.

Essa é a essência do populismo: transformar o político em personagem, e o eleitor em plateia cativa. Mas o que se perde nesse espetáculo é o debate crítico, o pensamento racional — como já alertava Jürgen Habermas (2003) ao analisar a mutação da esfera pública em sua obra Mudança Estrutural da Esfera Pública.

Comunicação ou performance?

A democracia do like, da lacração e do story cria uma sensação de proximidade, mas esconde um risco: o enfraquecimento da esfera pública crítica e deliberativa. Quando a política vira show, o cidadão vira espectador — e o conteúdo vira produto.


Pensando com mais profundidade:
  • Você vota em quem se parece com você ou em quem te representa de fato?

  • Qual o papel das redes na sua percepção de política?

  • E se a política virou entretenimento… o que sobrou da cidadania?


Esta é mais uma edição do Sextou com Pipocas, um espaço para pensar os bastidores da cultura e da comunicação com profundidade, leveza e análise crítica. Se você ou sua empresa querem navegar com inteligência neste novo cenário de engajamento, dados e reputação, conte com a ToMoveCom. Comunicação estratégica, pesquisa de mercado, diversidade, ESG e tudo o que você precisa para transformar conexões em valor.
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Embora se chame Sextou com Pipocas, nem toda sexta tem sessão — priorizamos compromissos profissionais que hoje sustentam nosso trabalho. Esta coluna, feita com afeto e reflexão, segue como um projeto independente, publicado quando o tempo permite e a inspiração pede passagem.

Referências bibliográficas:
  • LACLAU, Ernesto. A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2013.

  • BOEIRA, M. M. O comportamento do eleitor brasileiro na escolha do candidato. Revista Gestão e Desenvolvimento, v. 7, n. 1, 2010. Disponível em: https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistagestaoedesenvolvimento/article/view/1484/2295. Acesso em: 9 maio 2025.

  • HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

 

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